E.E.F.M. Padre Luís Filgueiras

terça-feira, 23 de agosto de 2016

A Docência e a Gestão da Formação do Professor

A docência é uma prática que se realiza pela ação do professor na escola, especificamente, no interior da sala de aula. A prática docente é parte do conteúdo do trabalho do professor que visa à adaptação de regras diante das possibilidades de ensinar, ou seja, é fundamental o foco da ação docente na aprendizagem do aluno.

Assim, o professor deve dominar o conteúdo a ser ensinado e daí elaborar a sua aula, tendo o planejamento como determinação que orienta a sua atividade, guiando o ensino e criando um efeito em cada aluno de forma especial que toque a sua sensibilidade e atenção. Desse modo, a aula pressupõe na sua construção, além da definição de um conteúdo, um método.

A técnica pedagógica nos revela a necessidade do domínio do conteúdo e para ensiná-lo cabe ao professor subdividi-lo em partes, para que explicado em sala de aula aos alunos, estes possam aprender. Aqui a pedagogia como técnica se aproxima das pedagogias tradicionais.

Foi por mais de um milênio que os professores fizeram a aula, limitados pela exposição, leitura, cópia, uso do quadro negro para promover a transmissão dos conteúdos de ensino. A ideia central era fazer a aula tendo como preocupação o desafio do ensino para grupos de alunos, mas o professor deveria fazer a sua aula como se a fizesse para apenas um aluno.

No século XX a pedagogia moderna trouxe uma grande contribuição ao processo pedagógico. As teorias psicológicas foram aplicadas, sistematicamente, ao campo do ensino no contexto escolar o que permitiu importantes avanços no pensamento e nas práticas pedagógicas.

Nos últimos anos, temos presenciado a rediscussão da atividade docente, o que requer dos professores uma releitura da sua identidade. A docência se faz, também, como uma prática reflexiva diante das novas revelações, complexas situações e saberes plurais que envolvem o ensino e a aprendizagem, não podendo se limitar a uma dimensão técnica, prescritiva ou experimental.

Assim, a docência requer que os professores tenham claro o que é o ensino, como se faz para ensinar melhor, proporcionando aos alunos acesso fácil ao conhecimento e domínio dos saberes para aplicá-lo em situações das suas vidas pessoais.

Essas questões nos levam a compreender a função social da escola como instituição e o significado do trabalho docente. Mas qual escola e para qual sociedade estamos comprometidos como professores? Qual é a responsabilidade da escola para a formação de sujeitos? Qual é a relevância do trabalho dos professores diante dos desafios de educar?

A nossa resposta é necessária para iluminar a reflexão sobre a necessidade de ressignificar o trabalho dos professores. Ou seja, numa sociedade do conhecimento a educação escolar cumpre uma tarefa de grande significado, pois os níveis de escolarização que a pessoa adquire passam a ser o diferencial para a qualidade de vida e condição de possibilidade para a melhoria das suas vivências.

A partir da sua atividade, o professor ao responder essas perguntas estará compreendendo como os saberes docentes, que não são revelados a não ser exercendo a docência, podem ser explicitados pela prática reflexiva do ensino. Ou seja, os professores, ao refletirem como agem em determinadas situações em sala de aula, estarão enfatizando o trabalho docente e, por meio dos conteúdos de ensino, pensando, simultaneamente, como estes mudam, alteram, modificam e transformam o próprio ensino.

É por meio de uma ação reflexiva sobre o trabalho docente que o professor desvela uma racionalidade que define a docência. A autoformação do professor pede o domínio dos conteúdos de ensino, dos elementos do processo didático em ação (avaliação, planejamento, ensino e aprendizagem) e da técnica da gestão da sala de aula.

Desse modo, o professor desenvolve pela sua experiência uma prática que, mediada pela reflexão, gera um conhecimento que lhe é específico. Não existe receita para se formar um bom professor. No entanto, é daí que emerge a ambiguidade da docência. O que garante a docência? Qual o resultado do trabalho dos professores para a efetiva aprendizagem dos alunos?

Qual a certeza de se conseguir o que se planejou no final da atividade proposta pelos professores na sala de aula? Será que basta a formação numa licenciatura para se ser um bom professor? Se a formação universitária não assegura a formação de um bom professor, de que vale a universitarização da profissão? O que faz um bom professor? No seu cerne, a docência é um ofício que se faz modernamente como uma profissão.

Portanto, se aprende a ser professor por uma conquista de ser humano, fazendo no outro a própria humanidade. É pela alteridade de reconhecer o outro que se faz a docência. Não é algo simples a formação de professor. É um desafio contínuo ser professor. É uma conquista que se faz dia a dia, em cada atividade, na aula, na sala de aula, na escola, com os alunos, com os colegas professores e até com os pais dos alunos. O conteúdo de uma aula não está apenas no conteúdo a ser ensinado, mas na realização da formação do humano, tornando-o outro ser humano, que se faz educando.

Mas a ação dos professores no seu trabalho é uma atitude profissional, pessoal e política. O professor é sujueito que, desafiado pela responsabilidade frente às demandas da sociedade, tem, no seu compromisso com a utopia e na emancipação – enquanto tarefa ética de respeito incondicional – a dignidade do ser humano.

Os professores precisam de incentivo no desenvolvimento do trabalho docente. Para a elaboração do design didático, por meio do planejamento, a feitura de uma aula exige criatividade e conhecimento, sobretudo, mobilizados numa situação de ensino e aprendizagem. A docência pede ao professor que transforme informação em conhecimento e conhecimento ensinado em aprendizagem.

Casemiro Campos
Mestre e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Professor, pesquisador na área de formação de professores, conferencista, gestor e consultor em educação.

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