E.E.F.M. Padre Luís Filgueiras

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Memória e aprendizagem: estratégias para o aluno lembrar

A pedagoga e especialista em neurociência Kátia Chedid discute memória e aprendizagem e compartilha estratégias para que o aluno se lembre do conteúdo no longo prazo.

Memória e aprendizagem trabalham juntos. Qual o único modo de saber o que o aluno aprendeu? Avaliar esse aprendizado, claro – e o aluno demonstrará o que aprendeu justamente recuperando na memória o que foi ensinado.  

Alan Baddeley, um dos maiores especialistas em memória, escreve no livro Memória, da Editora Artmed, que, ao contrário de outros animais, o homem sobreviveu graças a aprendizagem. Sem a aprendizagem, não teríamos a linguagem, as ferramentas complexas, o transporte e tudo o que nos faz viver em sociedade.

O que determina aquilo que somos é a nossa capacidade para adquirir e armazenar novas informações. A memória é o que nos permite aprender por experiência, ou seja, é essencial para nossa sobrevivência. Baddeley afirma que há diferentes tipos de aprendizagem, que resultam em diferentes tipos de memória. Diz ainda que os vários estágios de memória e aprendizagem estão inter-relacionados e deveriam idealmente ser discutidos em conjunto.

A forma como aprendemos e avaliamos impacta de maneira essencial o tipo de memória na qual o que foi ensinado será armazenado. Alguns conteúdos não ficam armazenados na memória de longa duração porque os alunos sabem que só serão cobrados na prova e não entendem que essa informação será útil no futuro. Depois da prova, a impressão é que nunca mais esses conteúdos serão utilizados.

“Aquele professor que sempre dá aula usando a mesma sequência de estratégias tem grande chance de perder a atenção de seus alunos”.

O professor precisa saber que uma tendência do cérebro é a habituação, ou seja, o cérebro acostuma-se ao estímulo e começa a ignorá-lo. Além disso, quando dois estímulos concorrem a atenção se foca no mais intenso, no que tem movimento e no que é novidade. O professor pode se beneficiar dessas informações, usando estratégias diferentes e estímulos diferentes para ensinar cada conteúdo.

O professor que, a cada aula, propuser atividades variadas (alternando momentos individuais, em dupla e em grupo, usando esporadicamente aulas expositivas, mas também inserindo dinâmicas e ambientes diferentes), poderá prender mais a atenção de seus alunos. A repetição e a atenção são importantes auxiliares para a memória e aprendizagem, mas a repetição enfadonha faz com que a informação seja descartada.

A memória tem limitações em termos de capacidade, mas dar significado ao que pretendemos guardar pode ajudar. Vamos fazer um teste?
Tente memorizar essas 12 letras nessa sequência: P P V N D Q M F M A D V. Leia esse texto até o final e veja quantas você lembra, depois que eu der o significado a elas, no final desse texto, você não terá nenhuma dificuldade em guardá-las para o resto da vida!

Memória e aprendizagem em 7 passos
Marilee Sprenger, apresenta sete passos para ensinar nossos alunos e ajudá-los a guardar na memória o que ensinamos:
Atingir: envolver os alunos no processo de aprendizagem, tornando-os protagonistas. Basear a aprendizagem em problemas e usar estratégias colaborativas e cooperativas. Lembrar de considerar a atenção, os estilos de aprendizagem, a motivação e o significado, além de utilizar estratégias que envolvam diversos estímulos sensoriais.

Refletir: dar tempo aos alunos para relacionar o novo aprendizado com o que já sabem. Deixar o aluno participar, dar exemplos, contar suas histórias. Existem estratégias para garantir que todos relacionem o novo conceito com seu conhecimento prévio, como, por exemplo, colocá-los em duplas ou em grupos para que discutam o que foi aprendido.

Recodificar: a recodificação é um passo imperativo para que os alunos se apropriem das informações recebidas. Fazer resenhas, resumos, anotações, mapas conceituais, desenhos, esquemas sobre o que foi visto é essencial, pois o material autogerado é bem melhor lembrado. O registro personalizado desencadeia um melhor entendimento conceitual.

Reforçar: a partir do processo de recodificar o professor observa se os conceitos aprendidos pelos alunos correspondem ao que foi ensinado e, a partir daí, pode dar feedbacks, momento em que esses conceitos serão aperfeiçoados. Essa fase dá a chance ao professor de ajustar concepções antes de elas serem armazenadas na memória de longo prazo.

Treinar: treinar de diferentes maneiras, utilizando a aplicação, análise, a pratica mental, os pares educativos, a música, a personalização, a dança, os poemas e a criação, entre outras estratégias. A lição de casa pode ser utilizada como treinamento, assim como projetos “mão na massa”. O treinamento é a oportunidade de utilizar o conhecimento e entendimento confrontando os alunos com situações-problema imprevistas ou incomuns. O treinamento consolida a retenção do conceito na memória de longa duração.

Rever: a revisão torna possível resgatar a informação da memória de longa duração e manipulá-la na memória de trabalho. A revisão consiste em preparar nossos alunos para avaliar a aprendizagem. As revisões podem ser realizadas individualmente e em grupos – e existem formas criativas de realizá-las!

Recuperar: o tipo de avaliação pode afetar a facilidade ou dificuldade de recuperar algumas informações armazenadas. O processo de recuperação pode ser desencadeado por técnicas especificas. O estresse pode inibir a capacidade de acessar essa memória. Existem formas variadas de testar seus alunos, avaliá-los em dupla ou individualmente, deixar que preparem tábuas de consulta, proporcionar formas diversas de resgatar a informação através de trabalhos, provas e projetos.

Voltando às 12 letras, quem se lembra? E se eu disser que são as letras iniciais do “Parabéns pra você”? Você as escreverá rapidinho! Criado o significado o resgate fica fácil!

Kátia Chedid
Educadora e psicopedagoga e tem extensão em Neuropsicologia e especialização em Neurociência.

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