E.E.F.M. Padre Luís Filgueiras

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O Acróstico da disciplina em sala de aula

Acróstico é uma pequena composição poética em que uma ou um grupo de letras iniciais, medianas ou finais, formam uma ou mais palavras. É evidente que essa composição nada tem de relação com a questão da disciplina em sala de aula, mas quando sobre esse assunto se refletia e se pensava em procedimentos docentes para torná-la menos aguda, a combinação das letras que iniciavam tais procedimentos sugeriu um acróstico que aqui se objetiva sintetizar.

Busca-se dizer que uma eficiente administração da indisciplina não representava nenhum mistério, quando se descobriu que justamente nessa palavra, estavam as inicias desse procedimento. Quando o professor se omite de pequenos cuidados, o mistério da indisciplina se agrava. Observemos como essa complexidade pode ser desmitificada.

M - A questão da indisciplina é sempre menor quando a aula ministrada flui através de um método, isto é, percorrendo um caminho coerente e lógico. Métodos de ensino existem muitos, mas a causa mais aguda do desinteresse do aluno é justamente sua falta. Aula sem uma meta atribuída, sem um plano, sem uma linha sequencial que claramente se expressa, constitui convite à apatia e ao caos. Não existe o aprender sem uma teoria que induz a prática de ações que constroem o saber e essa teoria requer o apoio de uma linha diretriz, de um “caminho” que é o imprescindível método de ensino.
I - O uso coerente de um método de ensino exclui a concepção de aluno como massa, preferindo destacá-lo enquanto “pessoa”, ou seja, indivíduo. Toda aprendizagem é sempre individual e, dessa forma, não importa se a classe abriga quarenta ou cinquenta alunos, é essencial que o professor se debruce sobre como cada um constrói suas significações, de que maneira este e aquele aluno é capaz de contextualizar o que recebe com tudo o quanto em si já existe. Se em classes numerosas é difícil essa constatação pessoal, que ao menos as provas não busquem padronizações, não tente procurar respostas iguais para mentes diferentes.
S - O bom administrador de disciplina em sala de aula é sempre um professor sereno, sempre um mestre que sobrepõe a calma a impaciência. Ser rigoroso na cobrança de normas obtidas por meio de consensos com alunos, não implica que essa cobrança se faça pelo grito, pela bronca, mas pela serena coerência de quem se abriu a discutir um contrato de procedimentos com os alunos e agora reclama por seu cumprimento justo.
T -  Um dos focos mais agudos da indisciplina é em alguns alunos a sensação de exclusão. Não se aceita mostrar interesse pela aula do professor que se interessa apenas por alguns, que tem seus olhos voltados para “os da frente” ou “os do fundo”, para os “excelentes” ou apenas para os “medíocres”. O bom mestre é aquele que é mestre de todos e, por esse motivo, a letra “T” expressa a totalidade na abrangência de seu olhar.
E – Jamais se esquece de um professor entusiasmado por aquilo que explica, empolgado pela crença no conteúdo que transmite. Ainda que seja difícil mostrar entusiasmo em cada uma das doze ou quinze aulas de cada dia, é essencial que se saiba arrancar do interior a misteriosa força da vocação. É tolice acreditar que entusiasmo constitui elemento genético e que, dessa forma, alguns nascem com e outros sem essa propriedade, e ainda maior é pensar que, ministrando uma aula com empolgação, cansa-se mais do que outra pautada pela apatia e modulada pela sonolência.
R – Não pode ocorrer disciplina em sala de aula sem que existam regras claras e coerentes sobre os procedimentos que se aplaudem e outros que merecem sensação. A vivência dessa relação, pautada por essas regras democraticamente construídas, se opõe de forma radical ao caos de uma inexistência tácito contrato, no qual “fala quem manda” e “obedece quem quer”. Há muito já morreu a escola estruturada pelos modelos de quartel e, por isso, nada ajuda de forma mais coerente que uma boa relação entre alunos e mestres, do que boas normas previamente estabelecidas e de ambos os lados coerentemente cumpridas.
I – Todo bom professor é sempre um bom interrogador, um mestre em lançar desafios, propor problemas, fazer de uma resposta algumas perguntas. Disciplina em sala de aula se associa a interesse e o aluno interessa-se mais quando suas inteligências são respeitadas, quando se senta não para ouvir o que pode descobrir pela leitura, mas quando se percebe desafiado, envolvido pela criatividade de um professor que pelas vias da interrogação o faz pensar.
O – A palavra conclusiva que fecha este simplório acróstico é organização. É, talvez, a única letra que não poderia estar em outro lugar. A organização de uma classe formando um ambiente com clima adequado à aprendizagem é tudo e, por isso, é essencial que os alunos descubram que o espaço de construção do saber não é um lugar caótico onde as coisas de ontem não se sabe onde hoje estão. Uma classe organizada, com carteiras definidas e com recursos – ainda que parcos – acessíveis é, ao mesmo tempo, o primeiro e o último dos elementos para se buscar o bom aprender.

Como é possível perceber, não existe nenhum MISTÉRIO nas ações procedimentais com as quais se constrói uma boa relação de disciplina em sala de aula. É verdade que a inexistência de mistério não expressa facilidade. Nem sempre o que é claro, é simples, e é bem mais fácil descrever um acróstico que fazer da dança de suas letras uma ação contínua e coerente no dia a dia.

Celso Antunes
Especialista em Inteligência e Cognição e Mestre em Ciências Humanas.

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