Acróstico é uma pequena composição poética em
que uma ou um grupo de letras iniciais, medianas ou finais, formam uma ou mais
palavras. É evidente que essa composição nada tem de relação com a questão da
disciplina em sala de aula, mas quando sobre esse assunto se refletia e se
pensava em procedimentos docentes para torná-la menos aguda, a combinação das
letras que iniciavam tais procedimentos sugeriu um acróstico que aqui se
objetiva sintetizar.
Busca-se dizer que uma eficiente
administração da indisciplina não representava nenhum mistério, quando se
descobriu que justamente nessa palavra, estavam as inicias desse procedimento.
Quando o professor se omite de pequenos cuidados, o mistério da indisciplina se
agrava. Observemos como essa complexidade pode ser desmitificada.
M - A questão da indisciplina é sempre menor
quando a aula ministrada flui através de um método, isto é, percorrendo
um caminho coerente e lógico. Métodos de ensino existem muitos, mas a causa
mais aguda do desinteresse do aluno é justamente sua falta. Aula sem uma meta
atribuída, sem um plano, sem uma linha sequencial que claramente se expressa,
constitui convite à apatia e ao caos. Não existe o aprender sem uma teoria que
induz a prática de ações que constroem o saber e essa teoria requer o apoio de
uma linha diretriz, de um “caminho” que é o imprescindível método de ensino.
I - O uso coerente de um método de ensino
exclui a concepção de aluno como massa, preferindo destacá-lo enquanto “pessoa”,
ou seja, indivíduo. Toda aprendizagem é sempre individual e, dessa
forma, não importa se a classe abriga quarenta ou cinquenta alunos, é essencial
que o professor se debruce sobre como cada um constrói suas significações, de
que maneira este e aquele aluno é capaz de contextualizar o que recebe com tudo
o quanto em si já existe. Se em classes numerosas é difícil essa constatação
pessoal, que ao menos as provas não busquem padronizações, não tente
procurar respostas iguais para mentes diferentes.
S - O bom administrador de disciplina em sala de
aula é sempre um professor sereno, sempre um mestre que sobrepõe a calma
a impaciência. Ser rigoroso na cobrança de normas obtidas por meio de consensos
com alunos, não implica que essa cobrança se faça pelo grito, pela bronca, mas
pela serena coerência de quem se abriu a discutir um contrato de procedimentos
com os alunos e agora reclama por seu cumprimento justo.
T - Um
dos focos mais agudos da indisciplina é em alguns alunos a sensação de
exclusão. Não se aceita mostrar interesse pela aula do professor que se
interessa apenas por alguns, que tem seus olhos voltados para “os da frente” ou
“os do fundo”, para os “excelentes” ou apenas para os “medíocres”. O bom mestre
é aquele que é mestre de todos e, por esse motivo, a letra “T” expressa a totalidade
na abrangência de seu olhar.
E – Jamais se esquece de um professor entusiasmado
por aquilo que explica, empolgado pela crença no conteúdo que transmite.
Ainda que seja difícil mostrar entusiasmo em cada uma das doze ou quinze aulas
de cada dia, é essencial que se saiba arrancar do interior a misteriosa força
da vocação. É tolice acreditar que entusiasmo constitui elemento genético e
que, dessa forma, alguns nascem com e outros sem essa propriedade, e ainda
maior é pensar que, ministrando uma aula com empolgação, cansa-se mais do que
outra pautada pela apatia e modulada pela sonolência.
R – Não pode ocorrer disciplina em sala de
aula sem que existam regras claras e coerentes sobre os procedimentos que se
aplaudem e outros que merecem sensação. A vivência dessa relação, pautada por
essas regras democraticamente construídas, se opõe de forma radical ao caos de
uma inexistência tácito contrato, no qual “fala quem manda” e “obedece quem
quer”. Há muito já morreu a escola estruturada pelos modelos de quartel e, por
isso, nada ajuda de forma mais coerente que uma boa relação entre alunos e
mestres, do que boas normas previamente estabelecidas e de ambos os lados
coerentemente cumpridas.
I – Todo bom professor é sempre um bom interrogador,
um mestre em lançar desafios, propor problemas, fazer de uma resposta
algumas perguntas. Disciplina em sala de aula se associa a interesse e o
aluno interessa-se mais quando suas inteligências são respeitadas, quando se
senta não para ouvir o que pode descobrir pela leitura, mas quando se percebe
desafiado, envolvido pela criatividade de um professor que pelas vias da
interrogação o faz pensar.
O – A palavra conclusiva que fecha este
simplório acróstico é organização. É, talvez, a única letra que não poderia
estar em outro lugar. A organização de uma classe formando um ambiente com
clima adequado à aprendizagem é tudo e, por isso, é essencial que os alunos
descubram que o espaço de construção do saber não é um lugar caótico onde as
coisas de ontem não se sabe onde hoje estão. Uma classe organizada, com
carteiras definidas e com recursos – ainda que parcos – acessíveis é, ao mesmo
tempo, o primeiro e o último dos elementos para se buscar o bom aprender.
Como é possível perceber, não existe nenhum MISTÉRIO
nas ações procedimentais com as quais se constrói uma boa relação de disciplina
em sala de aula. É verdade que a inexistência de mistério não expressa
facilidade. Nem sempre o que é claro, é simples, e é bem mais fácil descrever
um acróstico que fazer da dança de suas letras uma ação contínua e coerente no
dia a dia.
Celso
Antunes
Especialista em Inteligência e Cognição e
Mestre em Ciências Humanas.