E.E.F.M. Padre Luís Filgueiras

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Eu Acredito no Poder dos Sonhos

Se você parar por 10 segundos e pensar no maior sonho da sua vida, que tipos de sentimentos dançariam em seu coração? Eu fiz esse exercício com 16 anos de idade quando estive pela primeira vez na cobertura de um hotel. Estava em Brasília e na ocasião fui declamar poesias e cantar rap.

Mas você deve se perguntar o que esse conteúdo ou indagação tem a ver com educação, digo com clareza: tudo! Deixe-me contar uma história breve... Meu nome é Ribamar Felipe, muita gente me conhece como Felipe Rima. Sou rapper, poeta, empreendedor e sobretudo um ser humano “vivedor” que se permite viver intensamente cada momento da vida.

Venho de uma origem bem delicada. Nasci em Fortaleza numa comunidade chamada Verdes Mares; ali, onde nasci e cresci, tive poucas opções, poucas oportunidades para ser o que sou hoje e por isso agarrei a primeira que tive.

Entre os 8 e 14 anos de idade tive acesso a armas, percebi que minha família toda era envolvida com o crime, vi meus tios serem assassinados, irmão preso, pai na dependência química e minha mãe lutando como uma guerreira fazendo o equilíbrio das emoções.

Dentro dessa realidade eu passei a sonhar em me tornar o traficante mais respeitado da zona leste de Fortaleza. Dentro da cultura do crime na periferia eu acreditei no poder dos sonhos dessa forma; sei que todo sonho pode se realizar e com certeza se eu tivesse seguido teria sido, mesmo que isso custasse lágrimas e minha própria vida.

Com 14 anos de idade, recebi um convite de um amigo de infância para ir a um projeto social; ele me anunciou que teria aulas de grafite e logo me animei pelo fato da pichação estar bem próxima a mim. Ao fazer as inscrições tive que escolher três oficinas, só assim poderia participar do projeto, e assim fiz. Grafite, sexualidade e rap com poesia.

Rap com poesia era a única que eu não queria, mas fiz a inscrição mesmo assim. Logo nos primeiros encontros vivi várias surpresas, mas a que mais comunicou meu coração foi quando na aula de rap a professora propôs falar sobre poesia. Confesso que eu não me animei com isso, me senti frustrado, enganado, afinal eu fui pelo grafite e falar de poesia não era tão atraente aos meus olhos.

Fui criado numa família do crime, machismo muito presente, intolerância e pessoas duras, insensíveis como referência; claro que poesia seria a última coisa sobre o que eu gostaria de conversar. Mesmo assim, a professora ganhou minha atenção, ela anunciou que iríamos falar sobre Carlos Drummond de Andrade e recitou o poema que dizia:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra ”

Todas as vinte e cinco pessoas da roda de conversa sorriram com esse aparentemente poema tão bobo. Mas eu fiquei em choque! Pasmo! E pensando como esse cara escreveu uma poesia falando assim do crack? Exatamente assim, eu pensei e senti a poesia ecoando dentro de mim narrando meu momento mais delicado da vida, a dependência química do meu pai, a função avassaladora do crack.

Com os olhos emocionados comentei com meu amigo que aquilo era mágico, a poesia, a literatura acabara de chegar e me conquistar sem porquê, nem pra quê.

Nesse mesmo dia, pela primeira vez eu fui à biblioteca da escola por minha própria vontade, eu já havia ido outras vezes na sala de multimeios, mas o fato de ter essa iniciativa já mudou minha percepção e maneira de lidar com o mundo.

Por que eu estou contando essa história pra você? Porque eu acredito no poder dos sonhos! Isso mesmo! Eu acredito, e você? Agora imagina o poder dos sonhos somado ao poder do conhecimento e da educação? Imaginou?

Continuando nossa história, aquela professora que se chama Glória Diógenes me fez perceber a importância do papel do educador para o mundo. Acredito que para ela naquele momento deve ter sido desafiador levar poesia para jovens de favelas, para jovens duros e armados contra o mundo, não com armas palpáveis, porém, com o olhar de quem foi educado para estar armado frente ao mundo.

O educador, professor tem o papel de ser conquistador, e conquistar não é fácil, porque exige naturalidade. Hoje imagino quantos professores e professoras se intimidam ao pensar em levar poemas para dentro da sala de aula, nesse mundo tão insensível. No entanto, os que superam isto e acrescentam às suas aulas um vídeo motivacional, uma música, um rap, ou uma poesia veem resultados grandiosos, pois oferecem reflexões e não apenas respostas.

Os alunos em geral vão para a escola, para a sala de aula, em busca de respostas para suas perguntas; então questiono também: E se o professor não levasse respostas e fizesse apenas um dia de perguntas? Seria desafiador? Acredito que sim!

Quando percebi que o conhecimento abre portas eu me apaixonei por isso, passei a me dedicar a vários conteúdos que somavam para a minha formação humana; eu fui no meu ritmo, buscando aquilo que me interessava, me aproximando das pessoas que poderiam me ajudar e 50% delas foram professores oriundos da academia (formados), outros 50% educadores da vida, da rua, o que todos somos.

Sou fascinado pelo poder da educação. O conhecimento compartilhado é uma das mais preciosas ferramentas desbravadoras de caminhos do mundo. Reafirmo, sou encantado pelo poder dos sonhos. O sonho revoluciona os corações e nos impulsiona na vida para alcançar o que parece impossível.

Impossível! Eu gosto dessa palavra, ela é bem desafiadora... Você acredita no impossível? Eu prefiro acreditar que tudo é possível! Com oportunidades, trabalho em equipe, pessoas com sensibilidade para lidar com a vida, com garra e determinação diante das pedras do caminho.

Perdoe-me, se meu texto segue na linha tênue, entre o sonho e a educação, mas é que meu coração transborda de amor por esses temas, várias vezes me perco e perco o fio da meada, me encontro nos devaneios de ser feliz e me reconheço como um ser humano que anuncia perguntas, mesmo sem pronunciá-las.

Agora que você conhece de onde eu venho, deixe-me dizer como a força da educação tem me conduzido e por quais caminhos tenho passeado nesse mar de sonhos. Depois do encontro com a poesia pude vislumbrar novos horizontes e me atirei sem reservas na busca de uma vida plena. Encontrei suporte com centenas de pessoas que me doaram seus conhecimentos e me fizeram me reconhecer como Felipe Rima.

Percorri nos últimos quatro anos por sete estados do Brasil e mais de cem cidades do meu Ceará. Nesse caminho, acredito que de algum modo pude inspirar milhares de pessoas, inclusive chegar em Buenos Aires, na Argentina, e poetizar a vida por lá. Mais que viajar por aí, tive a oportunidade de viajar para dentro de mim até chegar aqui e através desse texto me emocionar em saber que você está lendo, está tentando imaginar, sonhar e se perguntando coisas novas.

Aos professores e às professoras do mundo agradeço a dedicação e paciência ao exercerem a “profissão perigo”. Por fim, gostaria de fazer um pedido a você: Elabore 10 perguntas para você responder, se delicie em buscar essas respostas, mas não se preocupe em encontrá-las, aprecie a viagem e grite para o mundo ouvir: EU ACREDITO NO PODER DOS SONHOS!

Felipe Rima
Poeta, escritor, rapper, palestrante e produtor cearense.

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