E.E.F.M. Padre Luís Filgueiras

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Criatividade, Inovação e Encantamento: A Reinvenção da Escola

Nos últimos anos, temos sido bombardeados por novos termos, novos olhares e novos valores na vida e na educação. Do Marketing surgido nos anos 80, ao bullying nos dias de hoje, a educação e os educadores têm feito um esforço tremendo para se atualizar e gerar novas saídas para um velho problema: a relação entre alunos, professores e o conhecimento.

Mas qual seria a verdadeira saída? Existe uma fórmula consagrada, que resolva nossas angústias frente ao quadro quase caótico do ensino/aprendizagem? Como promover uma escola capaz de se transformar, sem perder o conteúdo? E, principalmente, como fazer tudo isto mantendo os alunos focados e motivados no processo de seu desenvolvimento como indivíduo e na sua formação? Acredito que estamos frente a um dilema cultural, como ressalta sempre Edgar Morin em seus livros.

Talvez, porque em primeiro lugar, nós, adultos, tenhamos esquecidos que educar é fundamentalmente um ato de interação e troca cultural, e não um simples processo de transmissão e acúmulo de conceitos e fórmulas, afinal, não queremos formar alunos “google”. Sim! É desta forma que muitos jovens definem o colega para o qual eles perguntam e traz a resposta pronta. E o google está cada vez mais rápido e eficiente! Mas a escola, se olharmos para os testes e provinhas, tem perdido muito terreno e está ficando muitas vezes desinteressante aos nossos alunos.

“Como vencer nesse cenário?” Pergunta-me um amigo, diretor de uma escola de mil alunos: – Max, como produzir novas formas de ensinar e aprender, se somos escravos do conhecimento acumulado e das fórmulas e currículos entupidos de conceitos?

Vamos começar a olhar e refletir sobre as palavras do nosso título: CRIATIVIDADE, esta palavra tem perseguido nosso dia a dia nos últimos trinta anos, mas o que ela pode realmente propor para a escola e para as relações alunos, professores e conhecimento?

Sem dúvida, a criatividade é uma das valências humanas mais importantes nesta era do conhecimento e da informação. É o diferencial dos vencedores, de quem gera novas ideias e se destaca, e não de quem acessa e acumula informação – isto está ao alcance por meio de qualquer dispositivo da nossa época.

O que nos diferencia e nos torna autênticos ou não, é o modo que usamos as informações acumuladas em nossa mente, em livros, DVDs, sites, redes sociais virtuais ou reais, mp3, etc. Por isso, a criatividade passa a ser muito importante em nossa formação, e não basta acumular, temos que criar para realmente se diferenciar das máquinas. A criatividade vem para, de certa forma, substituir a capacidade de memorização no processo de ensino/aprendizagem.

E não pensem que o pensar criativo é mágico ou simplesmente como um dom divino. Ele é fruto de muito esforço, trabalho duro, autonomia, expressão, diálogo, respeito mútuo e, principalmente, de uma escola mais vivencial e mais conectada com a realidade em que vivemos.

Uma escola do jogo, das atividades lúdicas e da expressão, que esteja sempre se desafiando. Uma escola onde os alunos têm a possibilidade de vivenciar o que sentem necessidade, onde a tarefa começa no banco escolar, mas acaba na comunidade. Da reflexão para a ação, da ação para a expressão, da expressão para a criação, e da própria criação, disso nasce a nova sociedade, da prosperidade e dos valores éticos correspondentes com o tempo em que vivemos.

“A criatividade ultrapassa o puro lazer e pode converter-se em aquisição de conhecimento quando se processa planejadamente. É um meio de apropriação e transformação da realidade, gerando prazer e conhecimento, de forma não exclusiva. Supõe uma relação do homem com o mundo, em que o alvo não é meramente o conhecimento do que existe, mas a exploração do existente para algo novo.” (BORDINI E AGUIAR, 1993).

Precisamos mudar a forma como propomos o conhecimento e as interações, ou estaremos condenando nossos alunos a filas enormes de desemprego, à violência urbana e às drogas. Precisamos ajudar nossos alunos a formarem-se seres criativos, ou, como profetiza alguns filmes que os jovens adoram (Exterminador do Futuro, Matrix e Avatar), seremos substituídos em maior grau pelas máquinas, que já conquistaram bastante espaço em nosso dia a dia.

E se você, professor, pensa que está a salvo disso, e por muitos bons motivos escolhe repetir a aula sempre da mesma forma, lembre-se de que os processos de EAD fazem isto com muito mais competência, ilustram, dão vida e em muitos casos tornam o professor uma figura tão ou mais presente que vários colegas do ensino presencial.

A segunda palavra do nosso título é INOVAÇÃO: inovar é hoje uma necessidade e não uma opção. A inovação está ligada à transformação que temos de realizar em nossos processos de aprendizagem, de gestão, financeiro, existencial, ou seja, nesse mundo tão veloz e quase frenético, ou estamos sempre em atualização constante, inovando, ou logo ficando para trás.

Vivemos num mundo ao alcance de todos, de transformações muito rápidas; por exemplo, um acontecimento no Japão pode afetar e mudar a nossa vida aqui no Brasil, em segundos. Um mundo onde nossos jovens, através do computador e de outros multimeios, conectam-se a esse universo globalizado, mudam e transformam a sua forma de ser, fazer e conviver rapidamente. Portanto, precisamos nos adaptar e estarmos em constante evolução e transformação, para estarmos com um discurso coerente e em condições de pôr em prática tudo o que significa EDUCAR.

Na prática da sala de aula, a cada dia que preparamos a nossa aula, devemos perguntar: Não existe uma nova forma de abordarmos este conhecimento? Qual a melhor forma de transmitir esse conteúdo ao meu aluno? E anexar em nossos processos mídias, vídeos, filmes, áudios, fotos e pesquisas na WEB em nosso tratamento diário com o conhecimento.

Ao prepararmos o nosso ano, é preciso pensar melhor na grade de conteúdo e considerar o peso e o valor de cada um desses conteúdos, olhar para as especificidades culturais locais, propor projetos para elaborar conteúdos e, principalmente, incluir sempre novos temas em sintonia com o novo tempo. Sendo que “tema novo” não é falar de coisas de 10 anos atrás, é falar do hoje, contextualizar o conhecimento e propor sempre interação.

Na economia formal, a inovação é vista como a única forma de salvação e reinvenção das empresas e serviços. Na escola, a inovação é a única forma de mantermos os alunos presentes e, mais que presentes, aprendendo, pois neste século assistir à aula não significa aprender, aprender é interagir. As situações e os objetos de interação têm que ser inovadores e condizentes com a realidade de nossos educandos.

Digamos que a teoria da evolução de Charles Darwin nunca esteve tão presente entre nós, colegas professores: ou evoluímos ou seremos extintos. A terceira palavra do nosso título e também muito importante é ENCANTAR. Sempre que me refiro a este termo, o relaciono ao sentido lúdico. Se buscarmos definições formais, veremos que encantar é exercer uma influência mágica, fascinar, cativar pessoas, provocar admiração, causar satisfação ao outro.

As definições e “encantar” descrevem uma ação cheia de valores fundamentais, pois vivemos no mundo do encantamento e as crianças desde cedo são encantadas pelos meios reais e virtuais que as cercam, do parquinho de diversões (pracinhas hytec, videogames, internet, computador, câmeras digitais) aos passeios e conversas com amigos.

Nossos alunos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, são afetados por esses mecanismos de encantamentos midiáticos e reais. Nossas aulas estão carregando esse mesmo encantamento? Nosso discurso está encantando ou assustando?

 Certa vez me perguntou um professor de uma escola técnica: – Mas, o que é encantar na sala de aula? Como posso fazer isso? Parece ser fácil quando lhe escuto, mas o que posso fazer na prática? Respondo agora a ele e a vocês: encantar em sala de aula é fazer aquilo que o aluno não espera, é surpreendê-lo, é fasciná-lo.

Cabe ao educador realizar a INOVAÇÃO e, principalmente, proporcionar e buscar de seus alunos a CRIATIVIDADE, no tratamento dos temas e conteúdos. Com isso, a escola se renova e ENCANTA, e nós professores, podemos construir de verdade um futuro, formar a geração que buscará novas saídas para este mundo, novas ideias, novas atitudes e, principalmente, novos valores, necessários diante de grandes e novos desafios com os quais nos deparamos em nosso dia a dia.

Max G. Haetinger
Doutorando em Ciências da Educação; Mestre em Educação; Especialista em Criatividade e Tecnologias Aplicadas na Educação; Psicopedagogo, palestrante e autor de vários livros.

Sugestão de documentário – Tarja Branca.

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