Nos últimos anos, temos sido bombardeados por novos termos, novos
olhares e novos valores na vida e na educação. Do Marketing surgido nos
anos 80, ao bullying nos dias de hoje, a educação e os educadores têm
feito um esforço tremendo para se atualizar e gerar novas saídas para um velho
problema: a relação entre alunos, professores e o conhecimento.
Mas qual seria a verdadeira saída? Existe uma fórmula consagrada,
que resolva nossas angústias frente ao quadro quase caótico do
ensino/aprendizagem? Como promover uma escola capaz de se transformar, sem
perder o conteúdo? E, principalmente, como fazer tudo isto mantendo os alunos
focados e motivados no processo de seu desenvolvimento como indivíduo e na sua
formação? Acredito que estamos frente a um dilema cultural, como ressalta
sempre Edgar Morin em seus livros.
Talvez, porque em primeiro lugar, nós, adultos, tenhamos
esquecidos que educar é fundamentalmente um ato de interação e troca cultural,
e não um simples processo de transmissão e acúmulo de conceitos e fórmulas,
afinal, não queremos formar alunos “google”. Sim! É desta forma que muitos
jovens definem o colega para o qual eles perguntam e traz a resposta pronta. E
o google está cada vez mais rápido e eficiente! Mas a escola, se
olharmos para os testes e provinhas, tem perdido muito terreno e está ficando
muitas vezes desinteressante aos nossos alunos.
“Como vencer nesse cenário?” Pergunta-me um amigo, diretor de uma
escola de mil alunos: – Max, como produzir novas formas de ensinar e aprender,
se somos escravos do conhecimento acumulado e das fórmulas e currículos
entupidos de conceitos?
Vamos começar a olhar e refletir sobre as palavras do nosso
título: CRIATIVIDADE, esta palavra tem perseguido nosso dia a dia nos últimos
trinta anos, mas o que ela pode realmente propor para a escola e para as relações
alunos, professores e conhecimento?
Sem dúvida, a criatividade é uma das valências humanas mais
importantes nesta era do conhecimento e da informação. É o diferencial dos
vencedores, de quem gera novas ideias e se destaca, e não de quem acessa e
acumula informação – isto está ao alcance por meio de qualquer dispositivo da
nossa época.
O que nos diferencia e nos torna autênticos ou não, é o modo que
usamos as informações acumuladas em nossa mente, em livros, DVDs, sites, redes
sociais virtuais ou reais, mp3, etc. Por isso, a criatividade passa a ser muito
importante em nossa formação, e não basta acumular, temos que criar para
realmente se diferenciar das máquinas. A criatividade vem para, de certa forma,
substituir a capacidade de memorização no processo de ensino/aprendizagem.
E não pensem que o pensar criativo é mágico ou simplesmente como
um dom divino. Ele é fruto de muito esforço, trabalho duro, autonomia,
expressão, diálogo, respeito mútuo e, principalmente, de uma escola mais
vivencial e mais conectada com a realidade em que vivemos.
Uma escola do jogo, das atividades lúdicas e da expressão, que
esteja sempre se desafiando. Uma escola onde os alunos têm a possibilidade de
vivenciar o que sentem necessidade, onde a tarefa começa no banco escolar, mas
acaba na comunidade. Da reflexão para a ação, da ação para a expressão, da
expressão para a criação, e da própria criação, disso nasce a nova sociedade,
da prosperidade e dos valores éticos correspondentes com o tempo em que
vivemos.
“A
criatividade ultrapassa o puro lazer e pode converter-se em aquisição de
conhecimento quando se processa planejadamente. É um meio de apropriação e
transformação da realidade, gerando prazer e conhecimento, de forma não
exclusiva. Supõe uma relação do homem com o mundo, em que o alvo não é
meramente o conhecimento do que existe, mas a exploração do existente para algo
novo.” (BORDINI E AGUIAR, 1993).
Precisamos mudar a forma como propomos o conhecimento e as interações,
ou estaremos condenando nossos alunos a filas enormes de desemprego, à
violência urbana e às drogas. Precisamos ajudar nossos alunos a formarem-se
seres criativos, ou, como profetiza alguns filmes que os jovens adoram
(Exterminador do Futuro, Matrix e Avatar), seremos substituídos em maior grau
pelas máquinas, que já conquistaram bastante espaço em nosso dia a dia.
E se você, professor, pensa que está a salvo disso, e por muitos
bons motivos escolhe repetir a aula sempre da mesma forma, lembre-se de que os
processos de EAD fazem isto com muito mais competência, ilustram, dão vida e em
muitos casos tornam o professor uma figura tão ou mais presente que vários
colegas do ensino presencial.
A segunda palavra do nosso título é INOVAÇÃO: inovar é hoje uma
necessidade e não uma opção. A inovação está ligada à transformação que temos
de realizar em nossos processos de aprendizagem, de gestão, financeiro,
existencial, ou seja, nesse mundo tão veloz e quase frenético, ou estamos
sempre em atualização constante, inovando, ou logo ficando para trás.
Vivemos num mundo ao alcance de todos, de transformações muito
rápidas; por exemplo, um acontecimento no Japão pode afetar e mudar a nossa
vida aqui no Brasil, em segundos. Um mundo onde nossos jovens, através do
computador e de outros multimeios, conectam-se a esse universo globalizado,
mudam e transformam a sua forma de ser, fazer e conviver rapidamente. Portanto,
precisamos nos adaptar e estarmos em constante evolução e transformação, para
estarmos com um discurso coerente e em condições de pôr em prática tudo o que
significa EDUCAR.
Na prática da sala de aula, a cada dia que preparamos a nossa
aula, devemos perguntar: Não existe uma nova forma de abordarmos este
conhecimento? Qual a melhor forma de transmitir esse conteúdo ao meu aluno? E
anexar em nossos processos mídias, vídeos, filmes, áudios, fotos e pesquisas na
WEB em nosso tratamento diário com o conhecimento.
Ao prepararmos o nosso ano, é preciso pensar melhor na grade de
conteúdo e considerar o peso e o valor de cada um desses conteúdos, olhar para
as especificidades culturais locais, propor projetos para elaborar conteúdos e,
principalmente, incluir sempre novos temas em sintonia com o novo tempo. Sendo
que “tema novo” não é falar de coisas de 10 anos atrás, é falar do hoje,
contextualizar o conhecimento e propor sempre interação.
Na economia formal, a inovação é vista como a única forma de
salvação e reinvenção das empresas e serviços. Na escola, a inovação é a única
forma de mantermos os alunos presentes e, mais que presentes, aprendendo, pois
neste século assistir à aula não significa aprender, aprender é interagir. As
situações e os objetos de interação têm que ser inovadores e condizentes com a
realidade de nossos educandos.
Digamos que a teoria da evolução de Charles Darwin nunca esteve
tão presente entre nós, colegas professores: ou evoluímos ou seremos extintos. A
terceira palavra do nosso título e também muito importante é ENCANTAR. Sempre
que me refiro a este termo, o relaciono ao sentido lúdico. Se buscarmos
definições formais, veremos que encantar é exercer uma influência mágica,
fascinar, cativar pessoas, provocar admiração, causar satisfação ao outro.
As definições e “encantar” descrevem uma ação cheia de valores
fundamentais, pois vivemos no mundo do encantamento e as crianças desde cedo
são encantadas pelos meios reais e virtuais que as cercam, do parquinho de
diversões (pracinhas hytec, videogames,
internet, computador, câmeras digitais) aos passeios e conversas com amigos.
Nossos alunos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, são
afetados por esses mecanismos de encantamentos midiáticos e reais. Nossas aulas
estão carregando esse mesmo encantamento? Nosso discurso está encantando ou
assustando?
Certa vez me perguntou um
professor de uma escola técnica: – Mas, o que é encantar na sala de aula? Como
posso fazer isso? Parece ser fácil quando lhe escuto, mas o que posso fazer na
prática? Respondo agora a ele e a vocês: encantar em sala de aula é fazer
aquilo que o aluno não espera, é surpreendê-lo, é fasciná-lo.
Cabe ao educador realizar a INOVAÇÃO e, principalmente,
proporcionar e buscar de seus alunos a CRIATIVIDADE, no tratamento dos temas e conteúdos.
Com isso, a escola se renova e ENCANTA, e nós professores, podemos construir de
verdade um futuro, formar a geração que buscará novas saídas para este mundo,
novas ideias, novas atitudes e, principalmente, novos valores, necessários
diante de grandes e novos desafios com os quais nos deparamos em nosso dia a
dia.
Max G.
Haetinger
Doutorando
em Ciências da Educação; Mestre em Educação; Especialista em Criatividade e Tecnologias
Aplicadas na Educação; Psicopedagogo, palestrante e autor de vários livros.
Sugestão de documentário – Tarja Branca.